A pessoa que é o médico: filosofia médica

Recebemos de presente este texto do médico George Linard, do perfil A pessoa que é o médico, sobre a filosofia estoica e a medicina!

Compartilhamos com vocês:

Nas últimas semanas tenho prestado atenção aos Irmãos Estoicos. Pessoas que, apesar de tão distantes no tempo e no espaço de Zenão, Epicteto, Sêneca e Marco Aurélio, generosamente dividem conosco o que descobriram nessas mentes hábeis do passado. E como é próprio de toda filosofia que conseguiu atravessar séculos, ali tem substância. E de um tal modo que a primeira conexão que vejo, para além da própria existência, é com nossa profissão, a medicina. Certamente não por coincidência, bastando ver a certidão de nascimento escrita com algumas palavras em grego. Quer ver?

As primeiras ideias que chegam, já com manchetes em latim, memento mori, amor fati e premeditatio malorum encontram reflexo no exercício da medicina, se os olhos e o pensamento são atentos.

Estar perto da finitude do outro é comum ao nosso ofício, e não há como escapar à ideia da própria morte. Pode-se estar habituado, mas a repetição da vivência intensifica a sua natureza didática. Nosso memento mori está ali. E o que dizer de amor fati, esse convite irrecusável a aceitar o que não admite controle? E até a se manter preparado porque uma das poucas certezas da profissão, que é a de deparar-se com o incerto, a dúvida, essa onipresente. Não bastassem, ainda mais afeita à nossa lida é premeditatio malorum! Se é uma máxima que o filósofo recomenda para guiar a si mesmo, está também no centro da ideia de proteger a saúde de alguém o ato de alertar para o risco. Escolher o caminho que parece menos ameaçador é algo que se faz também com ajuda de médicos.

Há, de modo ainda mais especial, duas concepções estoicas que nos atingem na essência: a virtude e o bem comum. Aqui se abre o desafio de, na medida de nossa capacidade de renunciar a caminhos fáceis, poder atingir nosso propósito maior de colocar aquele que sofre acima de tudo. E é também tendo a virtude como referência que nos deparamos humanos, falíveis, vacilantes, prestes ao erro que pode custar tão caro.

O estoicismo tem algo a ensinar a nós médicos, condutores dessa tradição multimilenar de acolher e curar. A que virou arte e ciência, e manteve (e exige) a humanidade apesar de toda tecnologia.

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